Transcorridos 17 dos 48 meses do mandato do governador tucano Pedro Taques, Mato Grosso está ao fio da navalha mergulhado na crise que assola o Brasil. A folha salarial engole mais de 50% das receitas correntes líquidas e tromba com o teto constitucional definido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de 49% com limite prudencial de 46%. Parte da dívida do governo é dolarizada. Em Cuiabá e Várzea Grande há obras paralisadas que foram projetadas para a Copa do Mundo de 2014. A proposta para se construir unidades escolares por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs) esbarra no movimento estudantil, que em protesto ocupa 16 escolas em Cuiabá, Barra do Garças e Várzea Grande.
O Fórum Sindical que representa 32 categorias lidera uma greve iniciada no dia 31 de maio e por tempo indeterminado contra a decisão do Palácio Paiaguás em não repassar a Reposição Geral Anual (RGA) integral de 11,28%, que deveria ser incorporada ao salário do servidor em maio. Na Assembleia Legislativa Taques tem ampla maioria, mas vozes de oposição começaram a se levantar contra nas últimas semanas.
Ambientalistas e deputados estaduais sugerem a taxação da soja destinada ao mercado mato-grossense e o governo pega carona nesse movimento. Taques foi o primeiro governador a assumir a bandeira pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff e, nessa condição, além do fato de ser do PSDB - que é aliado do presidente em exercício Michel Temer (PMDB) -, em tese teria as portas do Palácio da Alvorada escancaradas para ele, mas não foi isso que se viu no começo da semana, quando acompanhado por parte da bancada federal esteve com Temer em busca de repasses e da liberação do Auxílio Financeiro para Fomento às Exportações (FEX); Temer pediu prazo para responder e, longe do governador, questionou a ausência de integrantes da bancada.
Análises da atual conjuntura não faltam, mas uma boa maneira para se chegar às críticas e sugestões de quem conhece os mecanismos administrativos de Mato Grosso é ouvir ex-governadores, para que falem com conhecimento de causa. O Diário os ouviu.
Carlos Bezerra foi ácido. Criticou a falta de execução de obras, “as únicas em curso são as inacabadas da Copa, que Silval (Barbosa) deixou”. Observou que houve aumento de receita, mas que Taques não consegue quitar o compromisso com a RGA. Bezerra governou entre 1987 e 1990. Foi duas vezes prefeito de Rondonópolis e senador. Cumpre o quarto mandato de deputado federal pelo PMDB.
Jayme Campos (DEM) entende que Taques é bem-intencionado, mas sugere medidas saneadoras. Jayme governou de 1991 a 1994. Por três vezes foi prefeito de Várzea Grande e cumpriu mandato de senador.
Frederico Campos fala em criatividade. “Se não tem recursos em casa, que se busque fora”, disse em alusão a empréstimos internacionais que obteve para realizar grandes programas. Frederico governou entre 1979 e 1982 e foi prefeito de Cuiabá em dois mandatos.
Antero Paes de Barros (PSDB) foi secretário de Estado de Dante de Oliveira, já falecido, e teve participação ativa no governo. Antero pede medidas muito amargas, como o corte dos duodécimos e cita que Dante demitiu 26 mil servidores. Antero foi vereador por Cuiabá, deputado federal constituinte e senador.
Luiz Antônio Pagot ocupou três secretarias no governo de Blairo Maggi. Foi o coordenador do Programa Estradeiro, de pavimentação rodoviária, e lançou a proposta das PPPs Caipiras, que bancou parte desse programa.
Agora, Pagot fala com cautela sobre esse modelo administrativo. Pagot foi suplente de senador de Jayme Campos e presidiu o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) em parte do governo de Lula da Silva.
Autor: Eduardo Gomes com Diario de Cuiaba