Em depoimento prestado junto à 7ª Vara Criminal de Cuiabá, o ex-secretário de Estado Pedro Nadaf confessou sua participação nos crimes desvendados pela operação Sodoma. De acordo com ele, todo dinheiro levantado por meio da organização criminosa foi utilizado para custear a campanha à reeleição do ex-governador Silval Babosa (PMDB) no ano de 2010.
“Fiz parte de uma organização criminosa que dilapidou, que roubou os cofres públicos de Mato Grosso”, afirmou.
Nadaf está preso há exatos 11 meses. Ele já havia sido interrogado em fevereiro deste ano pela juíza Selma Rosane de Arruda. No entanto, solicitou uma nova oitiva junto à magistrada para confessar os crimes que cometeu.
O ex-secretário afirma que queria ter assumido sua a culpa antes, mas seus advogados o orientaram a não fazer isso. “Quero assumir o que é minha culpa e os outros envolvidos que falem por si”, frisou.
De acordo com ele, tudo começou em 2009, quando foi procurado por Silval. Na oportunidade, o peemedebista teria proposto a ele um esquema para levantar recursos para financiar sua campanha à reeleição em 2010.
“Levantamos R$ 12 milhões, onde parte foi para caixa dois e outra parte foi para a doação oficial da campanha", especifica.
Após eleito, o esquema desbaratado pela Delegacia Fazendária (Defaz) foi implantado para pagar as dívidas oriundas da campanha à reeleição. Nadaf afirma que ele, Silvio Corrêa e Karla Cecília eram as pessoas de mais confiança do ex-governador, assim como o ex-secretário de Fazenda Marcel de Cursi.
“O Marcel de Cursi também fazia parte da organização. É público e notório seu conhecimento. Ele me aconselhava e dava sugestões de como agir e como fazer dentro da quadrilha. Ele que orientava o governador sobre tudo que fosse criado ilicitamente para beneficiar a organização criminosa”, acrescentou.
Nadaf relembra que Marcel criou uma lei que acabou sendo aprovada pela Assembleia Legislativa que blindava o governo de investigações sobre a venda de incentivos fiscais. Ele cita que a Lei era tão ampla, que impedia até mesmo o Ministério Público de investigar os processos licitatórios.
Além disso, confirma que a organização criminosa cobrou R$ 2 milhões em propina do empresário João Rosa, proprietário do grupo Tractor Parts, para que suas empresas continuassem sendo beneficiadas pelo programa de incentivos fiscais do Estado.
”Essa prática ocorreu durante os quatro anos de governo, essa lambança toda. Até hoje tenho dinheiro a receber de Silval, quer dizer, tudo bem que era dinheiro de propina”, garantiu.
Nadaf teria lucrado R$ 1,5 milhão com o esquema criminoso. No entanto, garante que irá reparar o dano causado ao erário. De acordo com ele, seu patrimônio ficará à disposição da Justiça para ser leiloado.
Outro membro da organização criminosa citado por Nadaf era o procurador Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o Chico Lima.
Nadaf, em seu depoimento, disse que foi ameaçado pelo ex-chefe de gabinete de Silval Barbosa, Sílvio Côrrea, quando estava preso no Centro de Custódia de Cuiabá (CCC). "O Sílvio ia toda hora na minha cela perguntar se eu ia fazer delação. Um dia ele sentou em minha cama e disse que os delatores não durariam nem um ano", disse. Após este episódio, Nadaf pediu transferência do CCC.
Autor: Kamilla Arruda com Diário de Cuiabá