Até entrar na faculdade, Igor Lima da Cruz Gomes superou um parto prematuro, o abandono do pai, oito cirurgias, um erro médico, dificuldades financeiras e desafios diários com locomoção. A vaga no curso de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), porém, ficou ameaçada por conta de míseros 33 degraus. Obstinado a vencer outra batalha, o cadeirante de 21 anos processou o governo do estado e a SuperVia pela falta de acessibilidade na estação de trem de Queimados, na Baixada Fluminense, onde mora.
Em primeira instância, uma vitória: ele recebeu R$ 16.800 para, enquanto as obras não fossem feitas, prover um carro alugado que o levasse até a universidade durante três meses. No entanto, após um recurso do mesmo governo do estado que vem atrasando o pagamento de servidores, pensionistas, inativos, terceirizados e fornecedores, agora é Igor, intimado pela Justiça a devolver o valor já investido no transporte, quem “deve” ao poder público.
Por que você decidiu recorrer à Justiça?
Não era a minha primeira opção. Desde que eu soube que havia passado no vestibular, procurei vereadores e até o prefeito aqui de Queimados. Alguns fizeram promessas, outros disseram que não tinham como ajudar, mas o fato é que não consegui nada. Falei até com o gabinete do Romário em Brasília (o senador costuma defender causas relativas a pessoas com deficiência). Quando percebi que o início das aulas estava próximo, decidi procurar a Defensoria e ingressar com a ação.
Que dificuldades você enfrenta para ir até a faculdade?
Pra começar, o ônibus. O ponto é perto da minha casa, mas, às vezes, não tem o elevador, ou não funciona, ou sou eu que preciso ensinar ao motorista sobre como operar. Na estação de trem, eu até consigo passar da roleta, mas, na hora de descer para a área de embarque, só tem a escadaria. Preciso esperar surgirem quatro funcionários da SuperVia dispostos a ajudar, desmontar a cadeira e montá-la de novo (só as duas baterias pesam mais de dez quilos). Esse processo todo costuma demorar uns 20 minutos ou mais. Na Uerj, pelo menos, a acessibilidade é melhor (a Estação Maracanã foi reformada para a Olimpíada e a Paralimpíada).
Autor: Luã Marinatto com Jornal Extra