Hoje é meu dia, e ouso começar a escrever esta matéria fugindo dos moldes habituais de um texto jornalístico. Isso só para dizer que é uma honra estar falando das mulheres que merecem hoje e todos os dias serem homenageadas. Afinal, há 160 anos, trabalhadoras de uma indústria têxtil realizaram uma das maiores revoluções por melhores condições e igualdade de trabalho. Mas, embora todas as conquistas ao longo dos anos, os dados em relação às mulheres ainda não são animadores.
Representando mais da metade da população brasileira (segundo IBGE), 53% do eleitorado brasileiro (segundo o Tribunal Superior Eleitoral) e ainda ocupando 60% das cadeiras das universidades, as mulheres ainda não conquistaram o devido espaço na sociedade. Uma pesquisa divulgada nesta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), aponta que as mulheres trabalham em média 7,5 horas a mais do que os homens. Em 2015, a jornada total média das mulheres (que considera a soma do trabalho remunerado mais os afazeres domésticos) era de 53,6 horas semanais, enquanto a dos homens, de 46,1 horas.
A defensora pública Rosana Leite diz que o Dia Internacional das Mulheres é de extrema relevância e marcou a luta de 160 anos atrás, quando as mulheres de uma fábrica têxtil lutavam por igualdade. “Muitas mulheres derramaram sangue para ter o direito reconhecido. Temos muito a comemorar com as leis afirmativas em prol das mulheres. Entretanto agora a luta é para que estas leis se efetivem na prática”, disse a defensora.
Triste realidade - Por dia, uma média de 120 mulheres sofre algum tipo de violência no Estado de Mato Grosso. Em média, a cada hora, cinco são ameaçadas, agredidas, estupradas ou vítimas de diversas outras formas de violência.
Os registros da Secretaria de Estado de Segurança Pública apontam o crescimento de nove mil registros de violência doméstica entre os anos de 2015 e 2016. De 34.720 denúncias de violência doméstica em 2015 no Estado, os números saltaram para 43.806.
Em que em Mato Grosso somente os casos de ameaças saltaram de 15.791 casos em 2015 para 19.402 em 2016. Os crimes de lesão corporal saíram de 7.680 em 2015 para 9.795 no ano passado. Sequestro e cárcere privado saíram de 119 em 2015 para 202 em 2016. No ano passado foram 227 casos de estupros, 22 estupros de vulneráveis e 61 tentativas, além de 361 tentativas de homicídio e 91 mortes.
Mulheres na política - Uma das práticas mais comuns, principalmente na política é usar mulheres como degrau. O Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso enviou à Procuradoria Regional Eleitoral a relação das candidaturas femininas com registro deferido em relação à eleição de 2017, mas que tiveram votação zero nas urnas, ou seja, não receberam nem o próprio voto. Em Mato Grosso houve 266 candidatos com registro deferido e votação zero. Desse total, apenas 17 são do sexo masculino e 249 candidaturas, são do sexo feminino.
Única mulher a ocupar uma cadeira nesta legislatura na Assembleia Legislativa, a deputada estadual Janaína Riva afirma que ela tem tentado de todas as formas demonstrar que as mulheres podem lutar por condições de igualdade em relação aos homens.
“É importante que haja mulheres no parlamento, que elas ocupem este espaço. Mas infelizmente não temos esta tão almejada condição de igualdade. Defendo cotas não porque somos inferiores a algum homem, não porque nós mulheres temos uma inteligência inferior, ou capacidade, mas porque não temos condições de igualdade. Enquanto o Estado não puder dar esta condição de igualdade entre as mulheres e os homens, nós não podemos dizer que temos a mesma oportunidade”, afirma Janaína.
Onde a mudança deve começar – É muito comum ouvirmos, até das próprias mulheres, que uma mulher apanha porque gosta, ou que foi estuprada porque mereceu pelas roupas que usa. A deputada estadual Janaína Riva classifica as atitudes como pensamentos machistas que partem de pessoas que têm mente pequena. Para ela, a mulher que passa por uma condição de dificuldade, de violência, precisa de amparo.
“Já fui vítima de discriminação com críticas preconceituosas justamente pela forma de eu me vestir, o batom que uso, ou a forma que pinto minhas unhas. Não vou mudar minha forma de vestir por causa de um paradigma que usam. Isso é um pensamento de minoria e minoria burra. Não mudo meu jeito de ser por causa de uma vírgula. Procuro me defender em todos os aspectos até para servir como exemplo para outras mulheres”, diz.
Rosana Leite diz que as mulheres precisam se solidarizar com a causa das outras. “Cito uma frase de Simone de Beauvoir que diz que ‘o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os oprimidos’. Se a cada mulher que fosse vítima de algum tipo de violência as outras se solidarizassem, se engajasse na causa, nossa realidade seria diferente”, disse Rosana Leite.
Autor: Aline Almeida com Diário de Cuiabá