Mato Grosso, detentor do maior rebanho de bovinos do país, vai retirar a vacinação contra a febre aftosa do seu calendário anual até 2021. A data foi anunciada durante o seminário internacional da Comissão Sul-Americana para a Luta Contra a Febre Aftosa (Cosalfa), realizado em Pirenópolis, em Goiás. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apresentou, durante o encontro na semana passada, o plano para retirada da vacina em todo o país e até 2023 o Brasil deve conquistar do status de zona livre da aftosa sem vacinação.
Mato Grosso é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como livre de febre aftosa com vacinação desde 2000. A febre aftosa é a principal barreira sanitária do mundo e as exportações de cortes bovinos são o principal item da pauta estadual, dentro do complexo carne. O último foco da doença no estado foi registrado janeiro de 1996. Mato Grosso conta com um rebanho de cerca de 30 milhões de cabeças.
A Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) participou do seminário juntamente com representantes do Instituto e Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea/MT) e da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato). O diretor-técnico da Acrimat e médico veterinário, Francisco De Sales de Manzi, afirma que a retirada da vacina já e um caminho sem volta “O Mapa anunciou que até 2023 o Brasil deixa de vacinar contra a febre aftosa em todo o país. Agora começam os trabalhos técnicos que irão guiar as ações em todo o território. As discussões agora giram em torno de como será a retirada e não mais se será retirada”.
De acordo com Plano Estratégico para enfrentar os desafios da última etapa da erradicação da aftosa, o Mapa dividiu o país em cinco blocos. Os primeiros estados a extinguirem a vacinação serão Acre e Rondônia em 2019. Em 2020 está prevista a retirada da vacina no Amazonas, Pará, Amapá e Roraima e os estados do Nordeste, com exceção do Sergipe e da Bahia. Em 2021 encerram a imunização nos estados do Centro-Oeste e Sudeste, na Bahia, no Sergipe e no Paraná. O bloco 5, composto por Rio Grande do Sul e Santa Catarina, também extingue em 2021.
Segundo Francisco Manzi, o produtor já está confiante com relação à erradicação da doença e extinção da vacina. “Mato Grosso está há 21 anos sem registro da doença e a América do Sul está desde 2006. Chegamos ao ponto em que temos a confiança, agora é preciso planejamento”.
O principal ganho para a pecuária com aquisição de status livre de aftosa sem vacinação é de mercado. Alguns países, como Japão, não importam carne de países que ainda vacinam.
“A aquisição desse status representa ganho de mercado e fortalecimento da nossa vigilância sanitária. Agora é preciso discutir junto com setor questões técnicas, de logística e até de exportação para que o país saia mais fortalecido deste processo”, afirma Francisco Manzi.
O diretor do Mapa, Guilherme Marques, explica que é preciso criar e manter condições sustentáveis para garantir o status do Brasil livre da febre aftosa sem vacinação. Para tanto, ressaltou, é necessário implementar uma séria de ações. Entre elas, a melhoria do sistema de segurança, com resposta mais rápida de todo serviço veterinário, diagnóstico de forma ágil e a reação do sistema com vista a debelar rapidamente eventuais focos.
Para Francisco Manzi, um país livre de aftosa não é aquele que vacina, mas aquele que consegue agir rápido e conter os riscos de disseminação em caso de registro da doença.
“O programa é muito importante para o processo de toda a cadeia produtiva brasileira. A proposta do governo brasileiro é muito consistente e apresenta prazo suficiente para que todos os envolvidos na cadeia possam se programar para a retirada da vacina”, disse o vice-presidente da Famato Francisco Olavo Pugliesi de Castro.
CALENDÁRIO - Mato Grosso imunizou 99,62% do seu rebanho de bovinos e bubalinos de durante a segunda etapa de vacinação contra a febre aftosa, realizada em novembro de 2016. Desde 2005 as etapas têm alcançado índices de vacinação superiores a 99%. Para se atingir os 100%, técnicos do Indea/MT vão a campo realizar a vacinação assistida.
Enquanto o status de livre sem vacinação não é declarado, a vacinação segue no Estado e em 2017 segue realizada em duas etapas, porém com o “calendário invertido”. A partir deste ano a vacinação nos municípios de Mato Grosso, com exceção da região do Pantanal, será feita diferente do que vinha sendo feita há anos.
Na etapa de maio será realizada a vacinação de bovinos em todas as faixas etárias, de mamando a caducando, e em novembro serão vacinados os rebanhos de 0 a 24 meses. Até 2016, o calendário vacinal era realizado de maneira inversa. A medida foi tomada para entre outros objetivos, facilitar o manejo, já que em novembro tem início a estação chuvosa, o que prejudica os trabalhos a campo.
Autor: Marianna Peres com Diário de Cuiaba