Domingo, 12 de Maio de 2024

Maurição defende trajetória dos irmãos Batista, mas reconhece erros




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Responsável por realizar o maior leilão de gado bovino do Brasil (e segundo sua empresa, a Estância Bahia Leilões, o maior do planeta), Maurício Tonhá está prestes a completar 55 anos e recebeu a alcunha de “rei do gado” por força de sua maior realização. É morador e ex-prefeito de Água Boa (749 km de Cuiabá).

Também é conhecido em todo o país devido à sua trajetória. Nascido na Bahia, mudou-se para Brasília com apenas 15 anos. Trabalhava vendendo embalagens e estudava para o vestibular da UnB, na busca pelo sonho de tornar-se engenheiro civil. No meio do caminho, entretanto, teve que refazer a rota da universidade para um concurso público da Caixa Econômica Federal (CEF), em Barra do Garças.

Em novo concurso, agora para o Banco do Brasil, passou e foi lotado para assumir o cargo na mesma pequena cidade (tem pouco mais de 24 mil habitantes, segundo o IBGE) da qual se tornaria prefeito eleito por dois mandatos.

Por força da natureza de seu negócio, costumava lidar diretamente com a JBS, empresa dona da Friboi e epicentro do atual furacão que revira a política e a economia nacionais há pouco mais de um mês. Desde quando os irmãos Joesley e Wesley Batista resolveram jogar tudo que sabiam no ventilador.

Com as delações, os dois jogaram também boa parte das coisas das quais são feitos os grandes negócios e a política institucional do Brasil. Maurição defende a trajetória dos dois como empresários e pecuaristas, assim como punição para o que “eles fizeram de errado”. Leia a entrevista que o rei do gado concedeu ao RDNews.

Qual foi o impacto da Operação Carne Fraca nos negócios do senhor?

Toda a atividade pecuária brasileira sentiu bastante essa operação com a questão da JBS. Houve um rombo nos negócios de gado, consequentemente afetando toda a cadeia. E eu vivo dessa atividade, então, impactou bastante.

Viu exageros no trabalho da Policia Federal?

Quem sou eu para falar? Parece-me que sim, mas não tenho condições de falar de forma profunda. Agora imagino eu que uma operação espalhafatosa, prendendo pessoas que não tinham uma expressão tão grande assim dentro da cadeia da carne brasileira. Foram casos pontuais, em algumas poucas indústrias, três ou quatro estabelecimentos que deram problema, quando temos em torno de 10 mil com controle sanitário e tudo certo, e esses três, quatro, que foram embargados e mostrados como se fosse uma coisa da cadeia inteira... Isso, além de não ser verdade, ainda trouxe um impacto muito negativo.

O senhor perdeu muito dinheiro com a prisão dos irmãos Joesley e Wesley Batista?

 (Riso nervoso) Eu perdi dinheiro? Não estou te entendendo. Pode repetir, sinceramente?

Perguntei se o senhor fazia negócios com eles e se a saída de ambos do cenário levou a alguma perda de rendimento.

Eu sou cliente deles porque sou fornecedor da JBS e eles, como pecuaristas, são clientes nossos. Mas eu não perdi dinheiro, o que houve foi um impacto muito grande na cadeia como um todo, onde desvalorizou o gado. E isso todo mundo foi impactado. O impacto do que aconteceu foi para toda a atividade, porque desvalorizou o gado. Todos foram impactados, mas quem mais perdeu dinheiro aí foi o Brasil inteiro, porque quando afeta a economia do Brasil, afeta todo brasileiro. E eu sou um brasileiro que vive do negócio da carne. Mas ninguém consegue mensurar ainda qual é o tamanho do problema.

Como recebeu a notícia da prisão dos irmãos Batista e qual era a relação que o senhor mantinha com os dois?

Sou pecuarista, sou cliente e fornecedor e eles já me compraram gado. Qual o problema? Eles têm 50% do mercado de Mato Grosso, não tem como, né?

Com qual deles o senhor tinha mais proximidade?

Não tenho pessoalmente relação com nenhum dos dois, só com a empresa JBS, o frigorífico. Negócio. Não com as pessoas físicas. Eles compram boi e quem vive de vender boi deve ir atrás de quem compra boi. É a coisa mais lógica do mundo.

O senhor considera os irmãos Batista inescrupulosos, corruptores ou só empreendedores arrojados?

Tire suas conclusões. Eles estavam dentro do cenário e jogaram o jogo em que eles estavam, cada um conclui como quiser. Mas está claro que fizeram coisas erradas, eles mesmos já declararam isso, e quem faz coisas erradas deve pagar pelo que fez. Mas que eles têm uma história também de muita história de vida de muita capacidade de negócios, monstruosa. Isso é inegável. Conseguiram colocar a carne e a pecuária brasileira no mundo inteiro. Tem mérito e tem erro. Devem ser reconhecidos pelo mérito que eles têm, como também devem pagar pelos erros que cometeram.

Como avalia a gestão Pedro Taques (PSDB)?

(Risos) Eu não sou analista de mercado de política não. Só do boi. Não vamos entrar na política não.

E o presidente Michel Temer (PMDB) sobrevive até o fim do mandato?

Eu acho que ele deve continuar. Nós passamos por uma ruptura política, de um impeachment muito triste. Acho que ele não deve ser retirado do cargo sem direito de defesa, devemos respeitar a Constituição, certo?

O senhor prefere uma volta do PT?

 Vamos pedir a Deus para não acontecer.

Pretende voltar à vida pública em 2018?

Vamos pedir a Deus pra não acontecer. Não quero não (risos).

Dizem que o senhor é um baiano que construiu sozinho um patrimônio milionário em Mato Grosso. Como conseguiu sair de feirante a pecuarista e maior leiloeiro de gado do Brasil e do mundo?

A vida não é tão simples quanto parece. Eu trabalhava o dia inteiro, estudava à noite. Queria ser engenheiro civil, fiz duas vezes o vestibular na UNB, mas não consegui passar, porque trabalhava muito. Quando vi que não passava, comecei a estudar para concurso, na época passei para a CEF, que foi quem me trouxe para Mato Grosso. Primeiro para Barra do Garças. De lá, fiz o concurso do Banco do Brasil e fui trabalhar lá, em Água Boa, de 1982 a 1991.

Por que decidiu começar a trabalhar com gado? 

Meus pais sempre foram da roça, já era acostumado com essa vida. Em 1991 eu comecei a trabalhar com leilão.

 


Autor: AMZ Noticias com RDNews


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