Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024

Em tempos de pandemia, municípios do Araguaia vivem a triste realidade da falta de UTIs




COMPARTILHE

Em tempos de pandemia e mesmo fora dela, a carência de UTIs nas unidades hospitalares da região Araguaia preocupa políticos, médicos e a população de modo geral.

Em Água Boa (26.721 habitantes) funciona o Hospital Regional Paulo Alemão, que atende o polo vizinho àquele município, mas o mesmo não tem UTI. Nas outras grandes cidades da região, UTI não passa de sonho. É assim em Confresa (30.933), Vila Rica (26.037) e Nova Xavantina (21.234). No Araguaia a saúde vai aos trancos e barrancos.

Em Confresa a referência é o hospital municipal, que tem apenas sete respiradores mecânicos, conforme revela o prefeito e médico Rônio Condão (PSDB).

Em São Félix do Araguaia (11.708 habitantes) a prefeita Janailza Taveira (SD) acaba de inaugurar o Hospital Municipal Prefeito João Abeu Luz, com 40 leitos e cinco respiradores; essa unidade hospitalar funciona como se fosse um hospital híbrido, meio municipal e meio estadual, pois é referência aos municípios de Alto Boa Vista (6.820) e Luciara (2.077), que integram o Consórcio de Saúde do Araguaia (CISA).

No sábado, 28 deste março, um paciente com sintomas de coronavírus foi removido de avião, do Hospital Municipal de Confresa para o Hospital Regional de Sorriso, no Nortão. A aerovia que levou o paciente ao atendimento tem 500 quilômetros – é a mesma distância de Lisboa a Madrid, as duas capitais européias mais atingidas pelo vírus de origem chinesa.

Região do Brasil Interior com roteiros turísticos que recebem bom fluxo de visitantes e com sua base econômica no agronegócio que tem movimentação nacional. o Araguaia fica exposto ao coronavírus, sem que tenha sequer condições de atender à demanda pela medicina de baixa complexidade. N

ão há nenhuma luz no fim do túnel sinalizando possibilidade de mudança da realidade nos próximos meses e, quem sabe, até mesmo anos. Essa situação precupa o presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa e único parlamentar estadual residente naquela região, o deputado José Eugênio Paiva, o Dr. Eugênio (PSB), que é médico anestesiologista radicado em Água Boa.

Dr. Eugênio alinhava ações da Assembleia com o governo para atuação emergencial em razão do coronavírus, mas ele defende que a questão seja tratada com profundidade e abrangência, além da pandemia.

O deputado observa que somente em Água Boa, Nova Nazaré (3.849 habitantes) e Ribeirão Cascalheira (10.206) existem 31 aldeias em territórios dos Xavante. Cita que nesses aldeamentos a subnutrição atinge duramente crianças e idosos, e que o alcoolismo afeta boa parte dos adultos. Emergencialmente Dr. Eugênio defende o isolamento das aldeias com a proibição de entrada de não-indios e a saída dos mesmos. “A Funai falou sobre isso, mas não vejo nada de concreto, a não ser a iniciativa de índios do Parque Indígena do Xingu. Porém, quanto aos Xavante, nossos vizinhos, a desproteção é total”, lamenta.

O reconhecimento da pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) aconteceu em meio a um levantamento detalhado da Saúde Pública no Araguaia, que está em elaboração pelo gabinete de Dr. Eugênio, e que conta com informes sobre os povos indígenas, que são contatados por um de seus assessores, Marcelo Kamaiurá, do Alto Xingu. “Nos últimos dias o Marcelo não participa presencialmente do levantamento em Cuiabá, pois recomendei que ele permaneça em sua aldeia, para cumprir o isolamento social recomendável nesse momento”, revela.

A precariedade da Saúde Pública na região e seu distanciamento de Cuiabá cria alguns cenários que em muitos casos mascaram números estatísticos da Secretaria de Estado de Saúde (SES). Isso, porque alguns municípios buscam atendimento em Palmas (TO), como acontece com Vila Rica, Santa Terezinha, Santa Cruz do Xingu, Confresa e São José do Xingu; ou em Goiânia, como acontece com Cocalinho, Alto Araguaia, Alto Taquari, Araguainha e outros.

Nas pequenas cidades do Araguaia é comum a visita periódica de médicos moradores em outras localidades para o chamado turismo profssional de saúde. Cartazes em bares, padarias, postos de combustíveis e farmácia anunciam data e horário do atendimento do Dr. Fulano de Tal, clínico geral ou especialista.

A visita dos médicos é real, mas em número reduzido. O médico que mais atende à região é o Dr. Ambulância, que leva pacientes a hospitais em Cuiabá, Goiânia ou Palmas.

DISCRETAMENTE – Sem alarde pra não despertar o Ministério Público, prefeituras da região se unem em informais consórcios para pagamento de aluguel de casas de apoio em Goiânia, onde são mantidos cidadãos à espera de atendimento pelo SUS. Como se presta conta dos gastos com os senhorios é mistério que somente a falta de saúde no Araguaia entende.

UTI é mais do que a complexidade da estrutura física para seu funcionamento. Não se pode pensar em uma unidade isolada, mas na instalação de várias no mesmo local.

Tomando-se por referência o paulistano Hospital Sírio-Libanês, a instalação de 10 UTIs em um hospital exige equipes compostas pelos seguintes profissionais: Nove médicos, cinco enfermeiros e 22 auxiliares de enfermagem, um fisioterapeuta, um bioquímico, duas atendentes e uma secretária.

Ese grupo de UTIs exige quatro respiradores de volume e sete respiradores de pressão, além de um rim artificial deslocado da área de hemodiálise, quando necessário.

Esse pessoal, além da qualificação profissional, precisa de treinamento para se entrosar, atuar como equipe. Não há disponibilidade desses profissionais em Mato Grosso. Conseguir recursos para instalar UTIs, definir hospitais estruturados para as mesmas, e encontrar e treinar pessoal não seria fácil. Enquanto isso, a pandemia ronda, ameaça. Tomara que o coronavírus não encontre os caminhos que levam ao Araguaia, ou Vale dos Esquecidos, onde a presença do governo estadual tem nome: VÁCUO.

 


Autor: Eduardo Gomes com A Boa Midia


Comentários
O Jornal da Notícia não se responsabiliza pelos comentários aqui postados. A equipe reserva-se, desde já, o direito de excluir comentários e textos que julgar ofensivos, difamatórios, caluniosos, preconceituosos ou de alguma forma prejudiciais a terceiros.

Nome:
E-mail:
Mensagem:
 



Copyright - Jornal da Noticia e um meio de comunicacao de propriedade da AMZ Ltda.
Para reproduzir as materias e necessario apenas dar credito a Central AMZ de Noticias