Na denúncia encaminhada à Justiça referente à última fase da operação Sodoma, o Ministério Público Estadual (MPE) afirma que o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) recebeu R$ 10,150 milhões em dinheiro vivo de propina oriunda de cobranças feitas ao empresário Willians Mirschur, dono da Consignum, para a empresa manter contrato junto ao Estado.
O pagamento da propina foi revelado pelo ex-secretário de Estado de Administração, César Zílio, em depoimento no termo de colaboração premiada firmada com o Ministério Público Estadual.
A quantia foi entregue no período de janeiro de 2011 a agosto de 2013. Ao todo, a Consignum pagou R$ 17,6 milhões em propina ao grupo liderado pelo ex-governador Silval Barbosa, dos quais R$ 10,150 milhões permaneceram com o peemedebista.
No depoimento à Polícia Civil e aos promotores de justiça, o ex-secretário César Zílio deu detalhes sobre como fazia a entrega da fortuna ao ex-chefe do Palácio Paiaguás. "Esclareceu que no mesmo dia em que recebia a propina do empresário repassava a parte correspondente a Silval, posto que era constantemente cobrado pelo então governador. E, para tanto, se dirigia ao gabinete do governador, sempre após o expediente, já no período noturno, levando o dinheiro em uma sacola ou envelope que pessoalmente deixava no banheiro do gabinete, na presença de Silval avisando-o textualmente sobre o valor deixado e quem procedera ao pagamento", diz um dos trechos da denúncia assinado pela promotora de justiça Ana Cristina Bardusco.
Zílio contou ainda que, ao assumir a Secretaria de Administração em janeiro de 2011, o ex-governador Silval Barbosa o convocou para participar de uma reunião no gabinete e o orientou a cobrar propina para que o empresário Wilians Paulo Mirschur mantivesse contrato de intermediação de empréstimos para servidores públicos ativos e inativos do Estado.
O intuito seria arrecadar o dinheiro para quitar dívidas de campanha eleitoral. “O argumento é de que o empresário precisava ajudar no pagamento das dívidas da campanha eleitoral para governador de 2010. Seguindo a determinação do líder da organização criminosa, solicitou a presença do empresário na sede da SAD e, em seu gabinete, falando em nome do então governador, condicionou a continuidade dos serviços executados pela Consignum ao pagamento mensal de vantagem indevida, justificando a exigência para saldar dívidas de campanha”, completa.
O ex-chefe da SAD detalhou que somente após dois encontros ficou definido que a propina chegaria até a R$ 700 mil com base no faturamento mensal da Consignum. "No primeiro contato não foi fixado o valor do pagamento mensal, o que só ocorreu no segundo encontro, também realizado no gabinete de Zílio. Na conversa, ardilosamente César afirmou que tinha conhecimento do faturamento mensal da empresa e, pelas contas que havia efetuado, para que o seu contrato fosse aditado e mantida a prestação de serviço ao Estado, deveria pagar mensalmente a importância de R$ 700 mil quando Willians, sem alternativa, apresentou a contraproposta de pagar R$ 300 mil culminando as tratativas com a fixação do valor mínimo de R$ 500 mil proporcional ao faturamento mensal e, desta forma, poderia variar entre R$ 500 mil a R$ 700 mil", revelou.
O MPE ainda destaca que os aliados de Silval buscaram "sufocar" o empresário, já que o contrato estava encerrando e só poderia ser prorrogado mediante o "acordo". Também foi destacado que a Consignum não recebe diretamente do Estado e que sua remuneração é feita por bancos conforme o volume de empréstimos por parte dos servidores, mês a mês.
Autor: Rafael Costa com Diario de Cuiaba