A região cuproferrífera de Carajás, onde se assentam os melhores minérios de ferro e cobre do Brasil, pode ser palco da maior marcha de trabalhadores do país no raiar de 2020.
Nossa reportagem vasculhou centenas de páginas dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) de projetos de mineração que estão na boca do povo e constatou: juntos, eles têm capacidade para arregimentar 12.400 empregos diretos na etapa de implantação e 3.050 oportunidades fixas na fase de operação. Além disso, vão gerar o triplo em oportunidades indiretas, pelo efeito multiplicador da indústria extrativa mineral.
O município de Curionópolis, que por muitos anos ficou no ostracismo depois de ter vivido o “vuco-vuco” do garimpo de Serra Pelada, mostra-se a grande promessa da indústria mineral na próxima década, no meio do fogo cruzado entre a ascensão de Canaã dos Carajás como o grande minerador do país e o declínio de Parauapebas cujo destino será orbitar em torno dos grandes polos de ferrosos e metais básicos que vão emergir a seu entorno, diante da gradativa exaustão de suas jazidas de ferro de alto teor.
Mas, para tanta coisa sair do plano fabular, tudo depende do mercado internacional e da burocracia nacional. O primeiro dita as regras do que e quanto precisa, e o Brasil obedece, se tiver a oferecer. O segundo é o país em si mesmo: lento e que precisa pedir licenças sem fim.
A grande questão para os projetos aqui apresentados se tornarem realidade é, no mais das vezes, obter as licenças necessárias para tocar os empreendimentos. O projeto Serra Leste, da mineradora multinacional Vale, por exemplo, virou manchete em vários noticiários do país após divulgação das oportunidades que pode gerar, caso a expansão que amplia sua capacidade de produção de 6 milhões de toneladas por ano (Mtpa) para 10 Mtpa saia do papel.
Ainda há outros projetos adormecidos (como Alemão, em Parauapebas, e 118, em Canaã); em rascunho (N1 e N2, ambos em Parauapebas, e Níquel do Vermelho, em Canaã); e intencionados em voz alta (expansão de S11D, em Canaã, e Gelado, em Parauapebas) que, em momento oportuno, também terão informações divulgadas. Não entram na contagem, por isso, as 3.000 oportunidades previstas para o pico das obras de instalação do projeto Alemão (se vingar algum dia) tampouco as 530 vagas da fase da operação.
Conheça, agora, a capacidade de geração de empregos de cada um dos quatro grandes empreendimentos que prometem sacodir municípios como Curionópolis e Marabá, estes os quais já têm expertise em mineração, bem como o futuro estreante Água Azul do Norte.
SERRA LESTE
Município: Curionópolis - Assinatura: Vale - Produto principal: Minério de ferro - Operação: Expansão de projeto já existente (de 6 Mtpa para 10 Mtpa) - Empregos diretos: 1.400 na implantação (temporários) e 1.000 na operação (fixos)
A Vale já começou a andar com o licenciamento da expansão de Serra Leste, Autoridades políticas locais até usaram a situação da licença, que está estacionada na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), para fazer pirotecnia política, sem qualquer efeito prático sobre a situação. Enquanto isso, a população de Curionópolis, onde há 8.700 desempregados, aguarda o desfecho.
SALOBO 3
Município: Marabá - Assinatura: Vale - Produto principal: Minério de cobre (ouro como subproduto) - Operação: Segunda expansão de projeto já existente (de 24 Mtpa para 36 Mtpa) - Empregos diretos: 3.700 na implantação (temporários) e 800 na operação (fixos)
A Vale já teve autorização de seu Conselho de Administração para tocar a segunda expansão de Salobo, denominada Salobo 3. Boa parte dos empregos deve ficar com Parauapebas e Curionópolis, embora os impostos decorrentes do projeto (como ICMS e ISS), bem como a compensação financeira, fiquem com a Prefeitura de Marabá. O empreendimento deve turbinar o caixa da prefeitura local em, pelo menos, 10%.
PEDRA BRANCA
Município: Água Azul do Norte - Assinatura: Avanco - Produto principal: Minério de cobre (ouro e prata como subprodutos) - Operação: Projeto novo - Empregos diretos: 1.300 na implantação (temporários) e 450 na operação (fixos)
A Avanco, por meio de sua subsidiária Monte Dourado Mineração, causou o maior frisson em 2017 ao anunciar o projeto de mineração Pedra Branca. Ano passado mesmo, a empresa obteve na Prefeitura de Água Azul do Norte alvará de construção que permitiu a implantação das primeiras instalações de apoio, bem como a rampa acesso à galeria de exploração no Projeto Pedra Branca. Este ano teve audiência pública para debater o projeto e acabou aí: não se tem notícias de se e quando as possíveis contratações vão começar.
CRISTALINO
Município: Curionópolis - Assinatura: Vale - Produto principal: Minério de cobre (ouro como subproduto) - Operação: Projeto novo - Empregos diretos: 6.000 na implantação (temporários) e 800 na operação (fixos).
A Vale descobriu o corpo Cristalino no final da década de 1990. Mas foi somente há exatos dez anos que a mineradora protocolou na Semas requerimento de Licença de Operação para pesquisa mineral simplificada, visando ao desenvolvimento de um Programa de Investigações Geológico-Geotécnicas na área do projeto Cristalino. Dado como morto por anos, muito por conta de inviabilidade econômica, agora a multinacional ensaia retirá-lo da tumba. O cobre é um dos grandes “queridinhos” do mercado, por conta, entre outros fatores, da demanda de carros com motores elétricos.
Autor: AMZ Noticias com Zé Dudu